“Bloodlines”
O começo original
Por Michelle Read
Nota do editor: Quando Michelle Read primeiramente sentou para escrever
Bloodlines, cada capítulo era narrado por um personagem diferente. Esta é a
história perdida de Adrian.
Capítulo 1
Adrian Ivashkov não estava tendo um bom
aniversário de 21 anos.
Atingir a idade legal para beber não era
grande coisa para ele, visto que ele vinha roubando álcool do minibar de seus
pais desde que tinha 13 anos. Antes do rei, roubar bebida nem era necessário.
Charme e status poderia dar a ele um drink em quase qualquer bar – vampiro ou
humano. Isso certamente se provou verdade noite passada, julgando pela ressaca
que tinha hoje. Ele teve uma ontem também. E no dia anterior. Na verdade,
Adrian tinha quase certeza que estava numa dieta de líquidos nas últimas
semanas. Estava ficando difícil dizer onde uma ressaca terminava e a outra
começava.
Parte da dieta de líquidos era sangue, claro.
Ele precisava disso para sobreviver, e na verdade o ajudava com a ressaca. Quer
dizer, meio que ajudava. Andando para fora da casa de seus pais agora, ele
piscou quando a luz do sol se pondo atingiu seus olhos supersensíveis,
rapidamente mandando a dor de cabeça para o fundo do seu crânio. Que horas
eram? Sete? Oito? O que quer que seja ele dormiu até tarde, o que pra ele
estava ótimo. A luz logo estaria extinta e haveria alguns poucos alimentadores.
Adrian há muito deixou de se importar com que os outros pensavam dele, mas
mesmo assim não queria encarar os olhares, um misto de pena e escárnio, que
tinha recebido ultimamente.
Acordar tarde também significava que ele não
tinha que ver seus parentes antes deles partirem. Ele tinha pouco interesse em
falar com eles na maioria das vezes de qualquer forma – principalmente com seu
pai – e certamente não no dia que sua mãe foi sentenciada por perjúrio e roubo.
Não que Adrian estivesse preocupado com ela. Lady Daniella Ivashkov não veria o
interior de uma cela. Ela ficaria bem, talvez com algum serviço comunitário.
Seu status a protegeria pra qualquer coisa, além disso, e realmente, com os
assassinatos e outras quebras de lei acontecendo ultimamente, seus crimes
seriam a última preocupação pra alguém.
Enquanto caminhava por um dos largos, lindos
gramados que compunham o coração da Corte Real de Monroi, ele não pode evitar
pensar se sua mãe lembraria do seu aniversário. Ela geralmente lembrava (sendo
muito cuidadosa em escrever datas importantes na sua agenda) e magnanimamente
diria a ele para “comprar algo legal” para ele mesmo. Depois ela sempre
lembrava seu pai, que daria a ele algo há muito desejado, propriamente seguido
de um sermão de como Adrian deveria descobrir o que fazer com sua vida.
Tia Tatiana nunca lhe dava sermão, no entanto.
Ela lembrava seu aniversário todo ano, se avisar, e sempre dava a ele um
presente escolhido a dedo. Como rainha dos Moroi, ela nunca comprava o presente
pessoalmente, claro, mas sempre dava a seus serventes informações precisas do
que ela queria dar a ele. Seus presentes eram sempre lindos e extravagantes,
com pouco uso prático. “Como você”, ela uma vez disse para perturbá-lo. Ano
passado ela deu abotoaduras incrustadas em rubis. Lembrando-se daquele dia,
Adrian franziu o cenho e se perguntou onde estariam as abotoaduras agora. Ele
nunca esperou usá-las tanto e foi descuidado. Mas nunca esperou que elas
desaparecessem também.
Ele as encontraria mais tarde, decidiu.
Depois que conseguisse sangue dos fornecedores. E depois de uma bebida, claro.
Não poderia começar seu aniversário sem uma bebida, e depois, ele devia um
brinde à única que, se ainda viva, saberia que era um dia especial.
“Feliz aniversário.”
Adrian parou subitamente. As palavras eram
suaves e baixas, faladas tentadoramente, mas facilmente discerníveis para
ouvidos vampiros. Lentamente, ele virou e achou Jill Mastrano parada
timidamente atrás dele. Ela era alta pra sua idade – 15, se ele lembrava
direito – e colocava seus longos membros com uma graça incerta que fazia com
que parecesse mais alta. Seu cabelo era uma massa de longos cachos castanho
claro, e seus olhos, observando-o nervosamente, era da cor de jades polidas.
“Pequena Jill.”, ele disse, colocando um
sorriso que vinha naturalmente para ele, não importava quão irritado ele estava
ou o quanto sua cabeça doía. Ele se arrastou em sua direção, se movendo na
sombra de uma macieira que bloqueava quase todo o por-do-sol. “Com quem você
está falando?”
“Você”, ela disse. Um pequeno sorriso cruzou
seu rosto, e um pouco da timidez se dissipou. “Não esconda. Eu sei que dia é
hoje.”
“Porque tem tanta certeza? Eu pareço mais
velho? Está é uma coisa tão cruel de se dizer. Daqui a pouco estará apostando
que meus cabelos estão ficando grisalhos. Você parte meu coração, Mastrano. Uma
quebradora de corações.”
Adrian se preparou para partir. Os
fornecedores o chamavam, seu corpo implorava pelo quente, salgado gosto de
sangue humano. Depois – uísque. Sim. Isso era o que ele queria depois. Mas Jill
era uma das poucas – muito poucas – pessoas com a qual ele não estava chateado
ultimamente. Ele estava curioso sobre como ela sabia que era seu aniversário
quando ninguém mais sabia. Pondo a mão no bolso, ele puxou um maço de cigarros
e seu isqueiro, esperando que um vício disfarçasse a urgência de outro.
Diante da palavra “quebradora de corações”,
as bochechas pálidas de Jill se tornaram rosas. Ele não deveria ter dito isso,
se deu conta. Ele não fez de propósito. Ele sabia que Jill teve uma paixão por
ele durante um tempo, uma que ele esperava tivesse sido superada, dado que nada
poderia surgir disso. Existiam poucas linhas que Adrian não cruzava. Garotas de
15 anos eram uma delas. Ele não a encorajava. Ele até parara de usar seu antigo
apelido: Jailbait. Ainda assim, flertar era um hábito para ele, e isso sempre escapava.
“Você me disse,” ela explicou “Você disse a
alguns de nós. Muito tempo atrás. Em St. Vladimir. Nós estávamos matando
tempo um dia, eu estava com um livro de horóscopo e estava olhando o de todo
mundo. Você é de leão. Extrovertido. Exibicionista. Confiante. Arrog…”
Ela mordeu o lábio abruptamente, e ele riu.
“Você pode dizer. Arrogante. Um bastardo arrogante.”
“Não! Eu não acho que você seja.” Ela disse
alarmantemente, os olhos inquietos. “De forma alguma. Quer dizer, é só um monte
de estrelas.”
Suas palavras levantaram uma estranha mescla
de sentimentos antigos nele, ambos bons e ruins. Foi bom vê-la dessa forma, da
forma que era: inocente, uma garota tímida tendo explosões de emoção e timidez.
Ele veria tudo isso nela mais tarde. De forma ainda mais marcante, ele poderia
descobrir quem estava nesse “alguns de nós” e fora de todos eles, ela
simplesmente notou seu aniversário. Lisonjeador. Triste.
“Bem.” Ele falou, depois de tirar um longo
trago do cigarro. “as estrelas estão certas e você também. É meu aniversário”.
Ela sorriu. “Você vai dar uma festa?”
Ele cuidadosamente manteve a mesma expressão,
casual e despreocupada. “Não, o que tem de especial nisso? Todo dia é uma festa
para mim. Não tem propósito aborrecer as pessoas numa noite da semana.”
Também sem motivo
mencionar que seus amigos estavam provavelmente muito preocupados para fazer
alguma coisa de qualquer forma. Tia Tatiana, ele
pensou. Tia Tatiana me
receberia pra um jantar. Ele
achava que se realmente quisesse celebrar, ele poderia achar qualquer número de
“amigos” – particularmente amigas – mais que felizes de aproveitar uma festa de
improviso esta noite. Talvez não fosse uma má ideia – mas não uma ideia para as
delicadas sensibilidades de Jill.
“Além do mais,” ele adicionou. “Tenho certeza
que você não poderia participar. Aposto como tem um encontro quente hoje à
noite, certo?”
Algo no seu rosto mudou a expressão
apaixonada, a ansiedade diminuindo um pouco. Seu humor nervoso retornou, e
Andrian sentiu suas sobrancelhas suspenderem. Isso foi inesperado.
“Você realmente tem um encontro!”
Jill lentamente balançou a cabeça. “Não… Não
desta… Não desta forma. Eu vou jantar com… com L-lissa e minha família.” Seus
lábios tiveram dificuldade de forma o nome. “Nós iremos discutir, hum, o
futuro.”
Por um breve momento Adrian se permitiu o
pensamento de que talvez alguém tivesse a vida mais bagunçada que a dele. O
rosto de Jill era corajoso, mas seus olhos a traíram. Um mês atrás, Jill esteve
passando as férias de verão na casa de seus pais no Michigan, ansiosamente
esperando se mudar para o ensino médio na St. Vladimir. Depois, ela descobriu um
segredo enterrado profundamente – o mesmo com o qual sua mãe foi punida por
suprimir. O pai biológico de Jill era da realeza, parte de uma linha familiar
quase desaparecida. Ele morreu anos atrás, e agora apenas outro membro da
família permanecia. A meia-irmã de Jill, Lisa Dragomir. Lisa Dragomir – também
conhecida como Rainha Vasilisa, primeira em seu nome, a recente eleita
comandante de Moroi.
Por curiosidade, Adrian invocou um pouco da
mágica que vivia com ele para poder ver a aura de Jill, o pouco de luz que
cerca todos os seres vivos. A mágica veio lentamente, um pouco atrofiada pela
bebedeira da noite passada, mas ainda trouxe a pressa e a alegria de sempre.
Todos os Moroi detinham algum tipo de elemento mágico, com os quatro básicos
sendo os mais comuns: fogo, água, terra e ar. Somente alguns “sortudos” como
Adrian possuía o quinto, o “espírito”, que oferecia maior alcance que qualquer
outro. Também, às vezes, resultava em insanidade.
Acontecia que ele não conseguia pegar algo
concreto de Jill. Seu controle sobre o espírito não estava bom hoje. Ela
desprendia uma gama de cores, mas elas eram suaves e cintilantes. Medo, ele
achava. Nervoso. Nada que ele não pudesse ver pelo seu rosto. Sonya Karp, outra
usuária do espírito, provavelmente poderia ver mais. Ela continuava tentando
ensiná-lo, mas ele estava com pouca paciência para aprender ultimamente – ou
mesmo com ela, às vezes. Sua atitude otimista e seu renovado amor pela vida não
combinavam com seu humor negro. Ele acabou a mágica, e a aura de Jill sumiu de
sua vista.
“Talvez você pudesse ir também,” ela disse
repentinamente. Sua ânsia subiu de novo, embora temperada com precaução. Ela
estava preocupada de ter ultrapassado a fronteira. “Então, você meio que teria
uma festa.”
Adrian riu e derrubou a bituca de cigarro no
chão, amassando-a com a ponta do sapato. “Não parece uma festa. Parece uma
reunião de família.”
“Mas outras pessoas estarão lá!” exclamou
Jill. “E Lissa não se importa.”
Não, Lissa provavelmente não se importaria,
mas as outras palavras de Jill fizeram um alarme soar em sua cabeça. “Que
outras pessoas?”.
“Bem, como eu disse. Lissa. Meus pais.
Christian, Ro…”
Mais uma vez, Jill parou sem terminar a
frase, mas era tarde. Ele ouviu o nome na sua cabeça e no seu coração, onde o
perfurou como uma adaga. Rose. Imagens de olhos escuros cruzou sua mente, olhos
penetrantes e um quase tão escuro cabelo. Um corpo cheio de tensão, lindo tanto
na forma como no jeito que pressentia perigo. Adrian procurou outro cigarro,
olhando para baixo, para que Jill não percebesse sua respiração entrecortada ou
o luto e a raiva que seus olhos certamente transpareciam.
Rose.
Ela estaria onde quer
que Lissa estivesse. E onde quer que Rose estivesse, ele também
estaria. Rose e Dimitri Belikov dificilmente se separavam na corte. Adrian
tinha dado um jeito de evita-los desde a coroação de Lissa e somente os tinha
encontrado duas vezes. Na primeira vez, eles estavam de guarda, acompanhando
Lissa numa reunião do Conselho. Rose e Dimitri se moviam quase como a mesma
entidade, como um par combinante de lobos ou leões, ambos atentos e mortais
enquanto estudavam envolta, não subestimando nenhum detalhe ou pessoa.
Na segunda vez, Adrian os viu fora de
serviço. Eles não o notaram. Eles estavam muito agarrados um no outro, sentados
embaixo de um sol de verão. Ela se inclinou para Dimitri, parecendo feliz de
uma forma que Adrian nunca viu – certamente não na época em que namoravam. Ela
disse algo que fez Dimitri rir, trazendo um sorriso a seu rosto, um sorriso que
Adrian não achava possível. Adrian não sabia o que tinha o aborrecido mais, o
formal ou o casual.
Ele queria dizer a Jill que ele poderia
pensar numa lista com mil coisas que ele preferiria fazer do que sentar numa
mesa com Rose e Dimitri. “Estar em coma” e “Esmurrar o próprio olho” estavam
quase no topo da lista. Um jantar como esse não era forma de passar seu
aniversário. Não era forma de passar dia nenhum. A ideia de achar companhia
feminina para a noite parecia cada vez melhor. Mas primeiro, o sangue. Depois,
a bebida. Deus, como precisava da bebida.
As palavras estavam nos
seus lábios, à recusa educada para a oferta de Jill. Ele poderia ver por sua
expressão que ela esperava isso também. Mas então, num estranho momento de
claridade, ele percebeu algo que ela não percebeu. Nós iremos discutir
meu futuro, ela
disse. Não. Ele sabia, sem saber como sabia, que eles iriam dizer a ela seu futuro. Existia muita
especulação sobre o que aconteceria a Jill, que não era uma princesa nem há um
mês ainda, e a qual a existência era tudo que mantinha Lissa no trono.
Alguém finalmente tinha decidido, ele percebeu.
O grupo decidiu. Ou talvez apenas alguns deles. Adrian não tinha certeza da
logística, mas ele quase podia perfeitamente ver a cena dessa noite. Lissa
daria as novas naquele jeito prático, régio dela, enquanto a mãe e o padrasto
de Jill – que sem dúvida eram votos vencidos agora, ou eles não estariam se
encontrando. – concordavam silenciosamente. E Rose… Rose estaria lá para
aliviar a tensão da melhor forma que puder, rindo e brincando, dizendo a Jill
que o que quer que eles tenham decidido seria ótimo e maravilhoso.
Jill não poderia lutar contra um grupo como
aquele. Nem Adrian poderia lutar contra um grupo como aquele, mas por razões
que não entendia, ele decidiu que não deixaria Jill enfrentar isso sozinha.
Talvez ainda tivesse bêbado e não tivesse se dado conta. “Que horas é o
jantar?” Perguntou.
Jill estava tão assombrada de ouvir essas
palavras como ele estava assombrado em dizê-las. Gaguejando, ela passou a
hora e o local, e ele prometeu que estaria lá. Ela foi embora, o rosto
radiante, e ele se perguntou no que tinha se metido. Com um suspiro, ele andou,
decidindo que não importava. O que seria mais uma decisão tola numa vida cheia
delas? Ele iria ao jantar. Ajudaria Jill estando mais triste que ela.
Mas primeiro – o sangue. Depois a bebida. E
provavelmente outra bebida.
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